sábado, 24 de janeiro de 2009

9º Ano - Análise das personagens do Auto da Barca do Inferno

Língua Portuguesa 9º Ano
Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente

O Fidalgo (Don Anrique)
Adereços que o caracterizam:
- Pajem: desprezo pelos mais pobres
- Manto: vaidoso
- Cadeira: julgava-se importante e poderoso

Argumentos de Defesa:
- Barca do Inferno é desagradável
- Tem alguém na Terra a rezar por ele
- É “fidalgo de solar” e por isso deve entrar na barca do Céu
- É nobre e importante

Tipo:
- Nobreza

Argumentos de acusação:
- Ter levado uma vida de prazeres, sem se importar com ninguém
- Ter sido tirano para com o povo
- Ser muito vaidoso
- Desprezava o povo

Referência ao pai de Don Anrique porque:
- É uma denúncia social, porque também o pai do Fidalgo já tinha entrado na Barca do Inferno, isto é, toda a classe nobre tinha os mesmos pecados

A movimentação dele em cena:
- 1º foi à Barca do Diabo que lhe explica para onde vai a barca e falando sempre em tom de ironia
- Depois foi à Barca do Paraíso para tentar a sua sorte, mas o Anjo acusa-o de tirania e diz-lhe de que maneira nenhuma pode lá entrar
- O Fidalgo volta para a Barca do Inferno e o Diabo explica-lhe todos os seus pecados, fazendo com que ele fique arrependido

Momentos psicológicos da personagem:
- Ao princípio o Fidalgo está sereno e seguro que irá para o Paraíso
- Dirige-se à Barca do Anjo, arrogante, e fica irritado porque ele não lhe responde e mostra-se arrependido e desanimado por ter confiado no seu “Estado”
- No fim dirige-se ao Diabo, mais humilde, pedindo-lhe que o deixe regressar à Terra p ir ter com a amante

Crítica de Gil Vicente nesta cena:
- Os nobres viviam como queriam (vida de luxúria)
- Pensavam que bastava rezar e ir à missa para ir para o Céu

Características dadas às mulheres desse tempo:
- Mentirosas
- Infiéis
- Falsas
- Fingidas
- Hipócritas

Caracterização do Fidalgo:
- Nobre (fidalgo de solar)
- Vaidoso
- Presunçoso do seu estado social
- O seu longo manto e o criado que carrega a cadeira representam bem a sua vaidade e ostentação
- A forma como reage perante o Diabo e o Anjo revelam a sua arrogância ( de quem está habituado a mandar e a ter tudo)
- Apresenta-se como alguém importante
- Despreza a barca do Diabo chamando-lhe “cortiço”
- A sua conversa com o Diabo revela-nos q além da sua mulher tinha uma amante, mas q ambas o enganavam pois a mulher quando ele morreu chorava mas era de felicidade e a amante antes d ele morrer já estava c outro
- O Fidalgo é, pois, uma personagem tipo q representa a nobreza, os seus vícios, tirania, vaidade, arrogância e presunção

Desenlace:
- Inferno


O Onzeneiro

Símbolos cénicos:
- Bolsão: representa o dinheiro

Tipo:
- Burguesia

“Oh! Que má-hora venhais,/ onzeneiro, meu parente!”:
- O Diabo revela, com este tratamento, que Onzeneiro tem semelhanças com ele, é como se fossem membros da mesma família
- O Diabo sempre o ajudou a fazer o mal, a enganar os outros
- Agora os papéis invertem-se: é a vez de o Onzeneiro ajudar o Diabo

Argumentos de defesa:
- Ter morrido sem esperar
- Não ter tido tempo de “apanhar” mais dinheiro (esta queixa mostra que para esta personagem o dinheiro era importante)
- Jura ter o bolsão vazio
- Precisa de ir à Terra para ir buscar mais dinheiro (para comprar o Paraíso)

Argumentos de acusação:
- Anjo: acusa-o de levar um bolsão cheio de dinheiro e o coração cheio de pecados, cheio de amor pelo dinheiro
- Ser avarento

O Onzeneiro é condenado pelo Anjo ao Inferno porque:
- Leva o coração cheio de pecados, cheio de amor pelo dinheiro e o bolsão representa esse dinheiro e não cabe na Barca

O Onzeneiro interpreta a recusa do Anjo :
- Que por não ter dinheiro não pode entrar no Paraíso
- Ele pensa que com o dinheiro pode comprar tudo e resolver tudo

A vida do Onzeneiro:
- Avareza (só pensa em dinheiro)

Gil Vicente dá esta pobre caracterização à vida da personagem porque:
- Todas as personagens são personagens tipo
- Não podem representar características pessoais

Desenlace:
- Inferno


O Parvo (Joanne)

Tipo:
- Povo (neste caso, ele representa uma pessoa pobre de espírito)

Não tem referência ao passado porque:
- Não agiu com maldade, é uma pessoa ingénua
- Não tem pecados

Símbolos cénicos:
- Não traz porque os símbolos cénicos estão relacionados com a vida Terrena e os pecados cometidos
- O Parvo não tem qualquer tipo de pecados

Argumentos de defesa:
- Anjo: tudo o que fez foi sem maldade e é simples

O Parvo não usa qualquer tipo de argumento para convencer o Anjo a deixá-lo entrar no Paraíso porque:
- Não teve tempo de dizer nada, a sua entrada naquela barca foi autorizada de imediato
- O Anjo deixa-o entrar porque tudo o que fez foi sem maldade

“Quem és tu? / Samica alguém”:
- Revela a sua simplicidade
- A resposta está relacionada com o seu destino que é o Paraíso

Caracterização desta personagem:
- Não traz símbolos cénicos com ele porque não tem qualquer tipo de pecados
- Com simplicidade, ingenuidade e graça, auto-caracteriza-se ao Diabo como “tolo”
- Queixa-se de ter morrido
- As suas atitudes ao longo da cena são descontraídas, o que irrita o Diabo que o quer na sua barca
- O Diabo é insultado por ele
- Esses insultos revelam a sua pobreza de espírito
- Apresenta-se ao Anjo como “Samica alguém”, mostra a sua humildade, e este diz-lhe que entrará na sua barca, porque tudo o que fez foi sem maldade


Desenlace:
- Fica no caís e entra com os Quatro Cavaleiros


O Sapateiro

Símbolos Cénicos:
- Avental: simboliza a profissão
- Carregado se formas de sapatos: simbolizam a sua profissão e vem carregado pelos seus pecados (sentido literal/sentido figurado)

Tipo:
- Artesão

Argumentos de acusação:
- Roubava os clientes
- Enganava
- Religião mal praticada

Argumentos de defesa: (práticas religiosas)
- Rezava e ia à missa (o Fidalgo usou a mesma defesa)
- Fazia ofertas à igreja
- Confessava-se
- Fez todas as práticas religiosas

Crítica feita por Gil Vicente a todas as rezas:
- Forma superficial de como os católicos praticavam a religião
- Julgavam que as rezas, missas, comunhões, tinham mais valor que praticar o bem

Desenlace:
- Inferno


O Frade (Frei Babriel)

Símbolos cénicos:
- Hábito de frade
- Escudo
- Capacete
- Espada
- Moça (Florença)
Equipamento de esgrima

Críticas com esses símbolos:
- Desajuste entre a vida religiosa e a vida que ele levava (vida mundana)
- Os símbolos representavam a vida de prazeres, o que o afastava do seu dever à Igreja


Tipo:
- Clero (mundano)

Argumentos de Acusação:
- Era mundano
- Não respeitou os votos de castidade e de pobreza

O Frade não nega as acusações feitas, pois:
- Pensa que o facto de ser Frade e o seu hábito o vão salvar dos seus pecados e conduzir ao Paraíso

Argumentos de Defesa:
- Ser Frade
- Rezou muito

Apresenta-se como cortesão:
- O que revela que ele frequentava a corte e os seus prazeres; era um frade mundano

“Gentil padre mundanal”:

- O Frade deveria ser uma pessoa dedicada à alma, ao espírito, mas é mundanal, vive os prazeres do mundo, por isso existe aqui uma contradição na sua vida e atitude

“Diabo-(...) E não os punham lá grosa / no vosso convento santo?
Frade- E eles faziam outro tanto!” revela que:
- Havia uma quebra de votos de castidade, hábito comum entre eles
- Esta afirmação alarga a crítica a toda a classe social, pois o Frade é uma personagem tipo, representando toda uma classe social


O Anjo recusa-se a falar com o Frade porque:
- Tem vergonha do seu réu
- Não tinha coragem de falar com alguém do clero com tantos pecados
- É o Parvo que tem a função de Anjo nesta cena


Frade aceita a sentença porque:
- Viu que o Anjo não quis falar com ele
- Porque não cumpriu as regras que deveria ter cumprido
- Se o Anjo se recusa a falar com ele é porque todos os seus pecados foram graves

Caracterização do Frade:
- Auto-caracteriza-se “cortesão” (frequentava a corte) o que entra em contradição com a sua classe
- Sabe dançar tordilhão e esgrimir, as qualidades típicas de um nobre
- É alegre pois chega ao cais a cantar e a dançar
- Tal como os outros Frades não cumpriu o voto de castidade nem de pobreza, como se comprova com as suas palavras
- Está convencido que por ser membro da Igreja tem entrada directa no Paraíso
- Personagem tipo através da qual se critica o clero

Desenlace:
- Inferno

A Alcoviteira (Brízida Vaz)

Símbolos Cénicos:
- Seiscentos virgos postiços (hímenes das virgens)
- Três arcas de feitiços
- Três armários de mentir
- Jóias de vestir
- Guarda-roupa
- Casa movediça
- Estrado de cortiça
- Dois coxins
(todos estes símbolos representavam a sua actividade de alcoviteira ligada à prostituição)

Tipo:
- Alcoviteira

Quando o Diabo sabe que é Brízida Vaz que está no cais ele fica:
- Contente: sabe que ela tem muitos pecados e por isso é mais uma passageira para a sua Barca
- Surpreso / admirado: não esperava por ela tão cedo
- Surpreendido

Com o campo semântico da mentira ela revela que:
- É hipócrita
- Tenta fazer-se de vítima perante o Diabo para convencê-lo do que lhe interessa
- Hábil mentirosa

Quando o Diabo a convida a entrar ela:
- Diz, com alguma arrogância, que não entra sem o Fidalgo

Perante o Anjo, Brízida Vaz usa outras tácticas:
- A sedução: muda o seu tom de voz tentando seduzir o Anjo
- Usa vocabulário de cariz religioso: para o Anjo ter pena dela e a aceitar na sua Barca

Quando fala com o Anjo, ela usa um vocabulário de cariz religioso para:
- Ele ter pena dela
- A deixar entrar na sua Barca
- A considerar uma boa pessoa merecedora de tal Barca

Argumentos de Acusação:
- Viveu uma má vida (prostituição), desencaminhou moças

Argumentos de defesa:
- Diz que já sofreu muito
- Que arranjou muitas “meninas” para elementos do clero



Caracterização de Brízida Vaz:
- Chegando ao cais na Barca do Inferno, recusa-se a entrar sem o Fidalgo, provavelmente eram conhecidos
- Diz que não é a Barca do Diabo que procura
- Leva vários elementos cénicos relacionados com a sua profissão de alcoviteira
- Está sempre confiante de que vai entrar na Barca do Anjo
- Defende-se dizendo que sofreu muito, como ninguém, que arranjou muitas “meninas” para elementos do clero e que está orgulhosa por ter arranjado “dono” para todas as suas “meninas”
- Quando vai à Barca do Anjo muda completamente a sua atitude, usando mais o vocabulário de cariz religioso e tentando seduzir o Anjo e fazer-se de boa pessoa

Desenlace:
- Inferno


Judeu (Semah Fará)

Símbolos Cénicos:
- Bode: representa a sua religião

Tipo:
- Judeu

Logo que chega ao cais o Judeu dirige-se para a barca do Inferno porque:
- Sabe que não será aceite na Barca do Anjo, já que em vida nunca foi aceite nos lugares dos Cristãos
- Os Judeus eram muito mal vistos na época e nem poderia admitir a hipótese de entrar na Barca do Anjo

Para entrar na Barca do Inferno ele usa:
- O dinheiro

Ele usa o dinheiro porque:
- Era uma forma de mostrar que os Judeus tinham grande poder económico e que estavam ligados ao dinheiro

O Judeu recusa deixar o bode em terra porque:
- Quer ser reconhecido como Judeu
- Não recusa a sua religião

Argumentos de acusação (o Parvo acusa-o de):
- Roubar a cabra
- Ter cometido várias ofensas à religião cristã e à igreja, comendo carne no dia de jejum
- Ser Judeu

Em termos de contexto histórico essa acusação:
- Revela que os Cristãos odiavam os Judeus
- Acusavam-nos de enriquecer à custa de roubos de natureza diversa
- Acusavam-nos de ofender a religião católica, cometendo diversas profanações


Desenlace:
- Fica no cais (porque ninguém o quer)


O Corregedor e O Procurador

Símbolos Cénicos:
- Corregedor: vara e processos
- Procurador: livros jurídicos

Tipo:
- Corregedor: Juiz corrupto
- Procurador: Funcionário da Coroa corrupto

O Diabo cumprimenta o Corregedor com “Oh amador de perdiz” porque:
- Era uma pessoa corrupta
- A perdiz era um símbolo de corrupção

A forma como o Corregedor inicia o diálogo com o Diabo aproxima-se da forma como o Fidalgo também o fez

O Corregedor usa muito o Latim porque:
- É uma língua muito usada em direito e mostra alguma superioridade intelectual

O Diabo responde-lhe em Latim Macarrónico porque:
- Era para ridicularizar a linguagem utilizada na justiça
- Para mostrar que essa linguagem não servia de nada
- Poderiam sobre falar bem Latim mas não sabiam aplicar as leis

O Corregedor pergunta “Há’ q-ui meirinho do mar?” porque:
- Ele estava habituado a ser servido

O Corregedor pergunta se o poder do barqueiro infernal é maior do que o do próprio Rei porque:
- Ele na Terra tinha um grande poder
- Não admitia que mandassem nele

Argumentos de acusação do Procurador:
- Não tem tempo de se confessar

Argumentos de acusação do Corregedor (o Diabo acusa-o de):
- Ter aceite subornos (ser corrupto)
- Ter aceitado subornos até de Judeus (muito mal vistos)
- Confessou-se mas mentiu

Argumentos de defesa do Corregedor:
- Era a sua mulher que aceitava os subornos


Gil Vicente julgou em simultâneo o Corregedor e o Procurador porque:
- Ambos passavam informação
- Ambos faziam parte da justiça
(havia cumplicidade entre a justiça e os assuntos do Rei, ambos eram corruptos)

A confissão para eles:
- Não era importante: só se confessavam em situações de risco e não diziam a verdade

Quando o Corregedor e o Procurador se aproximam do Anjo, ele:
- Reage mal
- Fica irritado
- Manda-lhes uma praga: atitude nada normal do Anjo

O Parvo acusa-os de:
- Roubar coelhos e perdizes
- Profanar nos campanários: levavam a religião de uma forma superficial

Desenlace:
- Inferno

No Inferno o Corregedor dialoga com Brízida Vaz porque:
- Já se conheceriam da vida terrena


O Enforcado

Símbolos Cénicos:
- Baraço (corda que traz ao pescoço)

Tipo:
- Povo (criminoso condenado)

Argumentos de defesa:
- Ele havia sido perdoado por Deus ao morrer enforcado
- Já tinha sofrido o castigo na prisão
- Garcia Moniz tinha-lhe dito que se se enforcasse iria para o Paraíso

Argumentos de Acusação:
- O crime que cometeu (ser criminoso)
- Ser ingénuo

Os Quatro Cavaleiros

Símbolos Cénicos:
- Hábito da ordem de Cristo
- Espadas

Tipo:
- Cruzados

Argumentos de Defesa:
- Dizem que morreram a lutar contra os mouros em nome de Cristo

Quando chegam ao cais chegam a cantar. Essa cantiga mostra:
- Aos mortais que esta vida é uma passagem e que terão de passar sempre naquele cais onde serão julgados – veicula o grande ensinamento deste Auto

Os destinatários desta mensagem são:
- Os mortais
- Os Homens pecadores


Nessa cantiga está contida a moralidade da peça porque:
- Fala da efemeridade da vida e de como é transitória
- Fala do destino final
- Fala do destino final que está de acordo com aquilo que foi feito na vida Terrena – assim como vivemos, assim será o nosso destino na morte

Os cavaleiros não foram acusados pelo Diabo porque:
- Merecem entrar na barca do Anjo
- Morreram a lutar pela fé cristã, contra os infiéis, o que os livrou de todos os pecados
- Esta cena revela a mentalidade medieval da apologia do espírito da cruzada

Desenlace:- Barca do Anjo

Visita de Estudo 7ºA e 8ºA

Fotos da visita à Companhia "O Sonho" (representação O Cavaleiro) e ao Museu Nacional do Azulejo ... em Lisboa, claro!!


quinta-feira, 22 de maio de 2008